Artadentro Galeria de Arte Contemporânea, Faro.
Verão azul, 2005. Óleo sobre tela, 30 x 45 cm. Colecção do artista.
Blue Summer, 2005. Oil on canvas, 30 x 45 cm. Artis's Collection. |
Noite estrelada, 2005. Óleo sobre tela, 57 x 84,5 cm. Colecção Privada.
Starry Night, 2005. Oil on canvas, 57 x 84,5 cm. Private Collection. |
Marco na piscina do André, 2005. Óleo sobre tela, 61 x 94,5 cm. Colecção Privada.
Marco in André’s pool, 2005. Oil on canvas, 61 x 94,5 cm. Private Collection. |
Sem título, 2005. Tinta-da-China sobre papel, 29,7 x 42 cm. Untitled, 2005. Chinese ink on paper, 29, 7 x 42 cm. |
Sem título, 2005. Tinta-da-China sobre papel, 29,7 x 42 cm. Untitled, 2005. Chinese ink on paper, 29, 7 x 42 cm. |
Sem título, 2005. Tinta-da-China sobre papel, 29,7 x 42 cm. Untitled, 2005. Chinese ink on paper, 29, 7 x 42 cm. |
Verão
Azul
Por Marco Mendes
O trabalho de
Arlindo Silva passou pelas crises necessárias até chegar ao que é hoje, um
método de representação de problemas e questões que o cercam, quer no plano
afectivo quer no plano artístico/intelectual.
Ao retratar-se
a si mesmo e aos que o rodeiam na sua intimidade, de forma pretensamente crua e
despida de preconceitos, o Arlindo atinge aquilo a que se poderia chamar a
"sua verdade". Uma verdade construída, primeiro pelos actores das
cenas que dão origem aos quadros, depois por ele próprio, no momento em que
selecciona, sequência e recompõe as fotografias que tirou.
Para um
estranho que vê uma exposição sua, poderá parecer opressivo entrar num ambiente
em que os comportamentos, a linguagem e os códigos, foram sendo subvertidos ao
longo do tempo, por um grupo restrito de pessoas que se relacionam entre si,
sem que se note da parte delas um esforço para encontrar um "tom comum de
diálogo". Isto advém do carácter genuíno da sua pintura, que não pretente
estilizar seja o que for, mas sim documentar com profundidade experiências
intensas vividas com os seus amigos. As poses são sempre captadas sem
pré-aviso, pela máquina fotográfica e denotam se não um estado de inconsciência
ou embriaguez, pelo menos de indiferença sobre o olhar do outro. A
familiaridade com o artista impede-os de se sentirem intimidados pela sua
presença, permitindo ao Arlindo retratá-los sem quaisquer máscaras, como é o
seu objectivo.
Por vezes são
as próprias personagens dos quadros que interpelam o observador, numa atitude
desarmante, pela sua proximidade e ar cúmplice. Exigem da parte deste
precisamente aquilo que não estão dispostas a abdicar, um tipo de honestidade e
comprometimento, que as domina ao ponto de fazer cair no ridículo. O que se
pensa de alguém que compra uma tela do Arlindo e a põe na parede da sua sala?
Uma tela que poderá representar o mais puro deboche, o retrato do Miguel, ou a
situação mais banal do mundo, o da Sónia, em que esta aparece como que a dar um
jeito aos lábios, numa expressão facial tão indefinida, que eu nunca a vi
representada em pintura (quanto mais de um modo tão realista)? Pensa-se
primeiro que houve uma empatia, quiçá uma identificação não só com o tema
tratado, como com a forma como ele foi tratado. Comprar um quadro do Arlindo é
entrar para o seu círculo de amigos, donde resulta (e aqui vou fazer uma
inconfidência) alguma relutância em os vender. Mais tarde eles aparecerão de
novo, reproduzidos em revistas ou fanzines em que participa juntamente com
alguns dos amigos retratados, também artistas, prolongando e dando sentido a
uma espécie de identidade de grupo, que tem feito crescer muitas ideias e
projectos artísticos.
Esta exposição
é o fruto de umas férias do Algarve e a costa Alentejana, que culminou numa
grande noitada na Figueira da Foz, em casa do André, em 2004. Daí resultou o
meu retrato, a boiar na piscina. Era o fim de um Agosto perfeito, cheio de mar
e sol, antes de o Arlindo e a Sónia rumarem a norte, até ao Porto, onde vivem e
trabalham. A beleza dos quadros sublima toda a nostalgia provocada por tais
lembranças, ao mesmo tempo que as torna ícones de um tempo que passou. São
todos quadros nocturnos e sente-se o calor, a despreocupação e ligeireza que
dão magia às noites de Verão...
Vistas da exposição (Vernissage). Artadentro Galeria de Arte Contemporânea, Faro. Exhibition view. |